Conheça as doenças que podem ser tratadas com o Canabidiol

O Canabidiol é um dos principais compostos da planta Cannabis sativa e o mais estudado, devido aos seus diferentes mecanismos de ação que resulta em uma ampla gama de efeitos terapêuticos. Além disso, o CBD não apresenta os efeitos psicotomiméticos e euforizantes, como os observados no composto Δ9-THC, o que representa uma baixa toxicidade e alta segurança/tolerabilidade.

Aqui no Brasil, o CBD começou a ser utilizado como tratamento para epilepsia através do esforço das mães que lutavam para que seus filhos obtivessem o tratamento com a Cannabis, que até então no Brasil era ilegal a importação.

Após a liberação da importação da Cannabis no Brasil, muitos pacientes começaram a realizar o tratamento com o CBD e as pesquisas começaram aumentar cada vez mais. Hoje, temos inúmeros artigos publicados demonstrando os benefícios do CBD em diferentes patologias e vamos listar aqui nesse artigo.

Patologias que podem ser tratadas com Canabidiol (CBD)

Epilepsias e convulsões:

Como mencionado acima, o CBD começou a ser difundido como tratamento para epilepsia, especialmente as de difícil controle e refratárias aos medicamentos convencionais. Muitos estudos clínicos têm demonstrado a capacidade do CBD em reduzir a frequência e intensidade das crises de epilepsia como as encontradas na síndrome de Lennoux-Gastaut e Dravet.

Uma revisão sistemática e meta-análise publicada em 2018, reuniu 550 pacientes com as síndromes de Lennoux-Gastaut e Dravet que realizaram o tratamento com CBD (Lattanzi et al., 2018). Os resultados demonstraram que o tratamento adjuvante com CBD reduziu a frequência das convulsões e apresentando poucos efeitos adversos. Um outro estudo publicado em 2019 descreveu alguns mecanismos de ação do CBD que estão envolvidos no tratamento da epilepsia. O CBD age como um anticonvulsivante através dos receptores GPR55, TRPV1 e pela inibição da enzima de degradação do endocanabinoide anandamida, a FAAH (Franco & Perucca, 2019).

Doenças neurodegenerativas:

O CBD possui efeitos antioxidantes e neuroprotetores, no qual são muito bem-vindos para auxiliar no tratamento da neurodegeneração. Os neurônios começam a se degenerar através de diferentes mecanismos, como por exemplo, desregulação do funcionamento mitocondrial, acúmulo de proteínas mal dobradas, excesso de radicais livres que leva ao estado de estresse oxidativo, neuroinflamação, estresse de retículo endoplasmático, entre outros. 

A doença de Alzheimer (DA), por exemplo, é caracterizada pelo acúmulo da proteína β-amiloide e Tau, o que leva a morte neuronal e consequentemente a demência. Um estudo recente demonstrou que o CBD pode atenuar os déficits cognitivos e a neurotoxicidade, além de melhorar a agressividade, irritação, ansiedade e insônia dos pacientes (Chen et al., 2023).

A doença de Parkinson (DP) apresenta o acúmulo da proteína α-sinucleina em neurônios dopaminérgicos, que estão localizados na substância negra, estrutura do mesencéfalo que produz a dopamina regulando o estado de humor e o sistema sensório-motor. A degeneração desses neurônios causa os sintomas vistos na DP como rigidez muscular, tremor de repouso, bradicinesia, alterações posturais e os sintomas não motores como depressão, agressividade, insônia e ansiedade. Estudos já demonstraram que o tratamento com CBD é uma alternativa promissora para o tratamento da DP, melhorando os tremores em repouso, a bradicinesia, e rigidez muscular, além dos sintomas não-motores, reduzindo a ansiedade e agressividade desses pacientes (Patricio et al., 2020; Venderová et al., 2004).

Esclerose múltipla:

A esclerose e múltipla (EM) é uma doença crônica neurológica e autoimune, que afeta especialmente mulheres jovens, causando uma série de sintomas incapacitantes, incluindo fadiga, fraqueza muscular, espasmos musculares, desequilíbrio, disfunção urinária e intestinal, tremores e incontinência urinária. As pesquisas têm demonstrado que o CBD traz alívio na espasticidade e rigidez muscular e na dor neuropática que estão associadas a EM. O CBD reduz a excitabilidade neuronal e inflamação no sistema nervoso central, o que corrobora para a diminuição dos sintomas. Além disso, o tratamento com CBD também auxilia a reduzir a fadiga, melhora a qualidade do sono e atenua a incontinência urinária, sintomas estes que são impactantes na qualidade de vida do paciente (Jones & Vlachou, 2020; Rudroff & Sosnoff, 2018).

Ansiedade:

Uma das características do CBD é sua ação multimodal, ou seja, ele tem a capacidade de se ligar de diferentes maneiras em diferentes receptores, o que explica suas diferentes aplicações e efeitos terapêuticos.

No caso da ansiedade, o CBD age inibindo a enzima de degradação do endocanabinoide anandamida, que é a molécula responsável pela sensação de prazer e bem-estar em nosso organismo. Com a inibição da atividade dessa enzima, ocorre um aumento na oferta de anandamida, promovendo assim os efeitos benéficos na regulação do nosso humor e redução da atividade glutamatérgica sob a amígdala, estrutura cerebral responsável pelo processamento de emoções intensas, medo e ansiedade. Assim, o CBD diminui as respostas exageradas relacionadas ao estresse, resultando em estado de relaxamento e tranquilidade.

Além disso, o CBD tem a capacidade de se ligar em receptores de serotonina, o 5HT1A, que desempenha um papel importante na regulação do nosso humor e ansiedade.  

Uma publicação de 2015 teve como objetivo determinar o potencial do CBD como tratamento para transtornos relacionados à ansiedade, avaliando evidências de estudos pré-clínicos, experimentais em humanos, clínicos e epidemiológicos. Os estudos sugerem fortemente o CBD como tratamento para transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade social, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de estresse pós-traumático (Blessing et al., 2015).

Dores crônicas:

Apesar dos efeitos analgésicos serem mais atribuídos ao composto Δ9-THC, o CBD também atua como analgésico através da sua ligação aos receptores TRPV1. Esses receptores, fazem parte da condução da nocicepção, ou seja, são responsáveis pela transmissão da dor para os centros superiores. O CBD, ao interagir com os receptores TRPV1, atrapalha a neuro condução da dor, o que faz com que haja uma diminuição da frequência e intensidade da dor. Dessa maneira, o CBD pode ser indicado para o tratamento de dores crônicas como a dor neuropática, fibromialgia, enxaqueca, artrite e artrose, entre outras (Boyaji et al., 2020).

Conclusão

É possível concluir que o canabidiol é uma molécula muito versátil que apresenta uma ação multimodal, no qual tem a capacidade de se ligar a diferentes receptores resultando em diferentes efeitos terapêuticos. Por esse motivo, o CBD pode ser indicado para o tratamento de diversas patologias, o que infelizmente se atribui a panaceia associada ao tratamento com a Cannabis. A ideia de que o tratamento com CBD trata tudo é equivocada, pois o tratamento com os canabinoides não é indicado para todas as doenças, mas sim abrange uma ampla gama devido as suas características farmacológicas.

A resposta ao tratamento com o CBD é individualizada, pois depende de diversos fatores como composição da formulação, dose correta, patologia a ser tratada e características individuais de metabolização e absorção do paciente. Diante do grande interesse entre médicos e pacientes em realizar a terapia canabinoide, se faz cada vez mais necessário entender como funciona o sistema endocanabinoide e a farmacologia dos canabinoides para que a prescrição seja cada vez mais assertiva e o sucesso do tratamento seja alcançado. 

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Referências:

Blessing, E. M., Steenkamp, M. M., Manzanares, J., & Marmar, C. R. (2015). Cannabidiol as a Potential Treatment for Anxiety Disorders. In Neurotherapeutics (Vol. 12, Issue 4, pp. 825–836). Springer New York LLC. https://doi.org/10.1007/s13311-015-0387-1

Boyaji, S., Merkow, J., Elman, R. N. M., Kaye, A. D., Yong, R. J., & Urman, R. D. (2020). The Role of Cannabidiol (CBD) in Chronic Pain Management: An Assessment of Current Evidence. In Current Pain and Headache Reports (Vol. 24, Issue 2). Springer. https://doi.org/10.1007/s11916-020-0835-4

Chen, L., Sun, Y., Li, J., Liu, S., Ding, H., Wang, G., & Li, X. (2023). Assessing Cannabidiol as a Therapeutic Agent for Preventing and Alleviating Alzheimer’s Disease Neurodegeneration. Cells, 12(23). https://doi.org/10.3390/cells12232672

Franco, V., & Perucca, E. (2019). Pharmacological and Therapeutic Properties of Cannabidiol for Epilepsy. In Drugs (Vol. 79, Issue 13, pp. 1435–1454). Springer International Publishing. https://doi.org/10.1007/s40265-019-01171-4

Jones, É., & Vlachou, S. (2020). A Critical Review of the Role of the Cannabinoid Compounds Δ9-Tetrahydrocannabinol (Δ9-THC) and Cannabidiol (CBD) and their Combination in Multiple Sclerosis Treatment. In Molecules (Basel, Switzerland) (Vol. 25, Issue 21). NLM (Medline). https://doi.org/10.3390/molecules25214930

Lattanzi, S., Brigo, F., Trinka, E., Zaccara, G., Cagnetti, C., Del Giovane, C., & Silvestrini, M. (2018). Efficacy and Safety of Cannabidiol in Epilepsy: A Systematic Review and Meta-Analysis. In Drugs (Vol. 78, Issue 17, pp. 1791–1804). Springer International Publishing. https://doi.org/10.1007/s40265-018-0992-5

Patricio, F., Morales-Andrade, A. A., Patricio-Martínez, A., & Limón, I. D. (2020). Cannabidiol as a Therapeutic Target: Evidence of its Neuroprotective and Neuromodulatory Function in Parkinson’s Disease. In Frontiers in Pharmacology (Vol. 11). Frontiers Media S.A. https://doi.org/10.3389/fphar.2020.595635

Rudroff, T., & Sosnoff, J. (2018). Cannabidiol to improve mobility in people with multiple sclerosis. In Frontiers in Neurology (Vol. 9, Issue MAR). Frontiers Media S.A. https://doi.org/10.3389/fneur.2018.00183

Venderová, K., Ružička, E., Vorřísšek, V., & Višňovský, P. (2004). Survey on cannabis use in Parkinson’s disease: Subjective improvement of motor symptoms. Movement Disorders, 19(9), 1102–1106. https://doi.org/10.1002/mds.20111