O que são tricomas na planta da Cannabis sativa?

Diferentemente do que a maioria pensa, os efeitos terapêuticos da Cannabis estão nas flores e não nas folhas. Dessa maneira, somente a planta fêmea e NÃO fertilizada é capaz de produzir as flores. Observando de perto, as flores da Cannabis apresentam algumas estruturas brancas, cheia de resina translúcida e grudenta no formato de cogumelo. Essas estruturas são os tricomas e desempenham um papel fundamental na sobrevivência da planta, protegendo-a contra ameaças biológicas (insetos e doenças) e excesso de luminosidade (agindo como um “protetor solar”).

Os tricomas são consideradas pequenas fábricas, pois é ali que ocorre a biossíntese dos fitocanabinoides, terpenos, flavonoides e outros constituintes químicos.  São pouco visíveis a olho nu e assim melhores visualizadas através de instrumentos de ampliação, como podemos observar nas imagens abaixo.

Os tricomas também auxiliam os cultivadores por dois motivos: 1) são indicadores para o momento adequado da colheita; 2) possuem a maior parte dos constituintes químicos ativos da Cannabis, tornando possível as diversas extrações para uso medicinal.

A Cannabis possui dois estágios de crescimento, o vegetativo e a floração. No primeiro estágio, vegetativo, a planta cresce de forma rápido e não produz muitos compostos químicos medicinais. No estágio da floração, a biossíntese dos fitocanabinoide ocorre de forma acelerada e atinge seu nível mais alto nas últimas semanas de maturação das flores.

Através da coloração dos tricomas é possível avaliar a maturação das plantas de Cannabis durante a floração. Entre o começo e até a metade do estágio de floração as glândulas dos tricomas estão mais claras, já durante a fase final do ciclo de florescimento eles ficam com uma coloração leitosa branca e turva, e finalmente no final da maturação apresentam uma coloração âmbar ou alaranjada. Outros fatores também são importantes para determinar o melhor momento da colheita, porém verificar a coloração dos tricomas é um ótimo teste para evitar uma colheita muito precoce ou muito tardia.

A quantidade e qualidade dos tricomas da Cannabis não depende somente da sua genética, mas também dos fatores ambientais como umidade, temperatura, luminosidade, tipo de solo etc. Existem uma variedade de formas, tamanhos e composições celulares dos tricomas e um estudo (1) identificou 6 diferentes tipos, demonstrados na imagem abaixo:

(A) Tricoma não-glandular unicelular; (B) Tricoma cistolítico; C) Tricoma séssil capitado; (D) Tricoma de haste capitado; E) Tricoma bulboso simples; (F) Tricoma bulboso complexo

Um outro estudo demonstrou tricomas que não possuem fitocanabinoides. Os tricomas não possuem um formato regular e não são translúcidos, o que significa que não há constituintes químicos sendo produzidos nessas estruturas (2).

Assim, concluímos que os tricomas são estruturas primordiais da planta da Cannabis sativa, tanto para sua proteção e sobrevivência como para a produção das substâncias que vão promover os diferentes efeitos terapêuticos em nosso organismo. São dessas estruturas que a extração é realizada para a fabricação dos medicamentos à base de Cannabis, trazendo o tratamento para diversas patologias. É possível observar também que ter um controle de qualidade para o correto tempo de colheita e extração se torna fundamental para a obtenção da melhor composição química que a planta pode oferecer, o que resulta em um produto de altíssima qualidade.

Referências:

  1. Andre CM, Hausman JF, Guerriero G. Cannabis sativa: The plant of the thousand and one molecules. Front Plant Sci. 2016 Feb 4;7(FEB2016).
  2. PERTWEE, R. G. (org.). Handbook of Cannabis. New York, Oxford University Press, 2014.